sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Afinal, o q é imprint????


Imprinting é um conceito que não é, nem um pouco, simples. Apesar de relativamente banalizado e muito citado por pessoas que trabalham com comportamento animal, nem sempre esse termo é bem interpretado e, raramente, é bem empregado. Desmistificá-lo será um desafio...

Esse termo foi cunhado por Konrad Lorenz, o chamado “pai da Etologia”, apesar dele mesmo não se reconhecer como tal. Na tradução de seu livro “Fundamentos da Etologia” esse termo foi traduzido como estampagem, apesar da palavra em inglês ser mais usada. Lorenz observou esse comportamento especialmente em aves, mas referiu-se a Freud e a outros pesquisadores que desenvolveram observação no mesmo campo referindo-se a mamíferos (e humanos).

Quando Lorenz descreve como são os processos de aprendizagem nos animais as divide em alguns tipos, que mais tarde poderão ser debatidos. Um dos grupos das formas de aprendizagem citados foi o que chamou de “Aprendizagem Associativa sem Efeito de Feedback Informando o Sucesso”. Ou seja, aprendizagem que depende de associação com estímulo externo que não precisa de resposta ou recompensa, tanto positiva quanto negativa. Nesse grupo ele cita fenômenos como habituação, trauma e imprinting.

Dessa forma já temos a primeira idéia do que é imprinting: aprendizagem que depende de associação, sim, mas não precisa de recompensa ou qualquer tipo de resposta. O exemplo clássico do imprinting e o primeiro descrito é o caso ganso que sai do ovo e reconhece como mãe o primeiro animal que vê. Esse animal será seguido por ele, independente de ser uma mãe ganso, um cisne, uma pessoa ou qualquer outro animal. Ele direciona todo seu comportamento de dependência à primeira face que viu. E mais interessante ainda: nessas aves o comportamento de côrte dos machos será direcionado a animal semelhante ao que ele considera o “padrão feminino da espécie”, buscará acasalamento com animal semelhante ao que considerou ser sua mãe. Se tudo estiver certo, estará cortejando uma fêmea adulta de ganso em idade reprodutiva, se o imprinting foi “errado”, direcionado a outra espécie, ele terá um comportamento estranho e nunca terá filhos nem transmitirá seus genes (sucesso reprodutivo).

Nem em todas as aves o imprinting ocorre assim e, muito menos, em todos os animais. Mas esse exemplo nos permite notar que há uma “necessidade”: busca da mãe, do cuidado parental. E há uma resposta associativa no ambiente: o animal que estava presente em seu nascimento. No momento em que essa “necessidade” encontra associação externa provável, ocorre o imprinting no cérebro do animal, e isso é irreversível. A “necessidade” que me refiro é a programação genética que há no DNA daquele animal, ele define que naquela idade e naquele momento há de ser buscada a seguinte resposta, essa resposta pode vir mal direcionada, mas se veio, não precisa ser positiva nem negativa, apenas ter sido associada. Em outras palavras, se um filhote de ganso reconhecer como mãe uma criança curiosa presente em seu nascimento, mesmo que a criança o chute, maltrate e reclame de ser seguida, ele vai continuar seguindo o quanto puder!

Mas como disse, nem todos os animais tem imprinting assim. Até as fêmeas de ganso reconhecem os machos independente do que foi estampado nelas como mãe. Isso varia de acordo com a genética. E aí começa o primeiro termo pouco compreendido relacionado a imprinting: ele é filogenético. Isso quer dizer que ele é completamente associado ao grupo e a espécie do animal em questão, cada espécie tem sua programação diferenciada.

O segundo termo mal interpretado é que o imprinting é “circunscrito a uma fase ontogeneticamente limitada” e tem muita gente que entende que isso significa que ocorre de a tantos a tantos meses no cão filhote e só ocorre nessa época para nunca mais. Ontogenia é o estudo das fases de desenvolvimento, e os seres vivos se desenvolvem até a senescência, ou seja, até a morte. O imprinting ocorre nos filhotes sim, mas também em adultos, ou em qualquer fase do desenvolvimento. Ocorre nas mães que reconhecem o chamado dos filhotes, por exemplo. Ele está limitado a fases do desenvolvimento, mas cada fase terá sua “programação” específica, e o grau de maturidade e desenvolvimento varia entre indivíduos.

O terceiro erro mais comum é achar que o imprinting pode ser direcionado. Não é possível determinar precisamente o momento em que o animal estará sendo estampado, assim como não é possível saber como interpretará e associara o estímulo. Apesar do imprinting ser irreversível e extremamente importante, só se pode favorecer o cão dando-lhe um desenvolvimento seguro e saudável, para que possa ter as melhores referências. Determinar o que será estampado artificialmente, não.

Luciana Fiuza

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